quinta-feira, 10 de março de 2016

Contos aleatórios - Separação



Não tenho o costume de escrever. Mas, às vezes, algumas ideias de histórias surgem do nada na minha cabeça. Imagino várias "situações problema" e fico com vontade de colocá-las no papel. Geralmente, minhas ideias não passam disso: situações problema que são escritas do jeito que imaginei. Ou seja, são histórias curtinhas, sem continuidade, contos. Vou compartilhar um agora com vocês. Espero que gostem! 

Separação



Acabei de sair de casa, aliás, ex-casa agora. Não, não que o Jorge tenha me expulsado, foi decisão minha sair logo de uma vez. Sei que a casa era dos meus pais e, normalmente, ele que teria saído. Mas, no nosso caso, foi diferente. Uma ironia cruel esta: somos um casal que é “errado” até na hora da separação. Somos? Éramos. Preciso me acostumar com isso agora.

Doeu tanto sair de lá, ver o Jorge parado com os olhos rasos d’água sem precisar dizer nada pra que eu pudesse entender o que ele sentia. O silêncio dele não durou muito. Como eu esperava, ele me abraçou, falou um monte de coisas, tentou fazer com que eu mudasse de idéia. Não sei como consegui, mas engoli o choro, peguei minha mala e saí. Estava dividida entre dois desejos: uma parte de mim queria que ele corresse atrás e implorasse pra eu parar com tudo aquilo; a outra preferia que ele ficasse lá na sala e não me obrigasse a ter que dizer "não" mais uma vez e aumentar ainda mais nosso sofrimento. Mas, é claro que ele foi atrás de mim e, mesmo contra minha vontade e com lágrimas nos olhos, eu o rejeitei. Disse a ele que não tinha mais jeito, eu estava decidida e ponto final, era melhor ele voltar pra casa, estava começando a chover. Nunca tinha visto o Jorge daquele jeito, tão murcho. 

Não queria mesmo que as coisas tivessem chegado a este ponto, mas eu PRECISAVA ter feito isso, foi melhor assim. Não dava mais pra conviver com a megalomania dele. Eu acabei “virando” esposa dessa obsessão: tudo o que ele fazia era sempre visando recuperar o dinheiro daquele loteamento ilegal, tudo. E, por mais que eu tentasse, o Jorge não me ouvia mais, de tão focado que estava nisso. Enfim, cansei de tentar abrir os olhos dele pro mundo, de não ser ouvida quando falava que o dinheiro estava acabando e logo iríamos passar por sérias dificuldades. 

Já nesta quinta-feira, percebi pra que lado as coisas estavam caminhando, por isso sugeri ao Jorge que mandássemos o Bernardo pra casa da avó para passar o fim de semana. Não queria que ele presenciasse mais brigas, muito menos que participasse do que aconteceu hoje, pois sei que o Jorge não teria suportado se o Bê estivesse junto, e eu também não. Enfim, o Jorge encarou a saída do Bernardo como um final de semana de trégua nas brigas, uma chance de reconciliação. 
No início, ele conseguiu derrubar minha resistência e eu me entreguei. Por uma noite foi como se tudo tivesse desaparecido, mas ainda assim eu estava um pouco triste, eu sabia que aquela era a última vez. Quando acordei ainda passei um bom tempo vendo o Jorge dormir, sentindo a respiração dele perto de mim. Mas quando ele levantou parecia que ia começar tudo de novo. Começou a falar que agora sim estava tudo do jeito que deveria estar, ou quase tudo, por que não demoraria muito nossa vida ia ficar perfeita: ele ia recuperar o dinheiro e poderíamos ter uma vida de milionários. Muito luxo, poucas preocupações, praticamente o desejo de qualquer mulher... Mas não o meu, falei. E aí que começou a briga definitiva.  

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