quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Mansfield Park - Jane Austen



Antes de começar a dizer minhas impressões sobre Mansfield Park, quero deixar uma coisa bem clara: eu ADORO Jane Austen. Sou super fã, acho ela genial e faço coro àqueles que a reverenciam como uma das maiores romancistas que já existiu.  

Ok?  

Bom, estando isso resolvido entre nós, vem agora a parte polêmica: eu não gostei do livro.  
  
Sim, sim, e de novo, sim. Vocês já vão entender... 

Mansfield Park é sobre a história de Fanny Price, uma menina resignada, tímida e franzina que, aos dez anos de idade, foi levada de um lar miserável e negligente para viver com os tios ricos em Mansfield Park, lugar que não poderia ser mais oposto à sua antiga casa. Lá, ela cresce recebendo certos privilégios e uma educação que jamais receberia vivendo com seus pais. 

Porém, acima de tudo, em Mansfield Park ela é ensinada a manter um elevado espírito de gratidão por ter sido "salva" da miséria e a reconhecer sua inferioridade (em qualquer aspecto) em relação às primas abastadas. Nesse cenário, Fanny se torna, com o passar dos anos, uma moça que tem potencializadas todas as inclinações de caráter já presentes na infância, principalmente a subserviência e a timidez. 

Por outro lado, seu maior conforto na casa dos tios é seu primo Edmund, que a trata com gentileza, lhe ensina o gosto pela leitura e se torna seu confidente. Como não poderia deixar de ser diferente, Edmund vira seu herói e Fanny se apaixona secretamente pelo primo, que a vê somente como uma irmã. 


Comentários:  

Minha primeira impressão foi, sem dúvida,  pensar em como Jane Austen escrevia bem. Sério, eu chego a me surpreender toda vez que leio qualquer coisa dela, mesmo que seja alguma obra que já tenha lido antes. E, ainda que eu tenha lido a tradução para o português, eu conseguia sentir na escolha das palavras, da estrutura do texto e da narrativa um refinamento que trazia ao livro um "gostinho" de coisa bem feita, dificilmente reproduzido por outros autores.  

Outro coisa de que gostei foi a construção dos personagens: ela imprime em cada um deles uma personalidade muito forte. O mais impressionante disso é que, mesmo o livro tendo sido escrito mais de duzentos anos atrás, o leitor consegue identificar sem dificuldade nenhuma esteriótipos muito presentes atualmente.  

Sabe o playboy que só quer saber de curtição? A menina mimada e egoísta que controla todos à sua volta?  Ou aquela pessoa que adora uma tragédia? Ou então aquele pretensioso que quando ajuda alguém não vê nada, a não ser sua extrema bondade? Pois então, nesse livro eles estão todos lá. E muitos outros também. Os leitores serem capazes de reconhecer essas personalidades em figuras da nossa época, só prova, na minha opinião, que Jane era mestre em identificar esses tipos e colocá-los no papel. 

Mas, agora começo o  trabalho ingrato de falar mal desse livro, por que apesar de tudo que citei acima, eu NÃO gostei dele. 

Primeiro aspecto ruim: a história se arrasta. Analisando todo o trajeto que o livro percorre, acredito que a história não precisava ser distribuída em tantas páginas!  
Tinha momentos que eu conseguia sentir a autora praticamente "cozinhando" a trama em banho maria, com cenas desnecessárias e entediantes. Acredito que com bem menos espaço, ela poderia ter escrito tudo o que está distribuído nas quase inacabáveis 398 páginas do meu exemplar (editora LPM, 2013).  

Como não gostei nenhum pouco do ritmo da trama nesse livro, demorei demais pra lê-lo: comecei na primeira semana de janeiro e terminei apenas na segunda semana de fevereiro! Depois de um tempo, sempre que ia ler eu me sentia como que tomando um daqueles remédios ruins que são jogados de uma só vez e você tem que digerir tudo muito rápido. 

Às vezes, eu me perguntava se a razão pra eu não estar entrando no clima da leitura seria por que o livro foi lançado em 1814 e teria sido feito aos moldes dos leitores da época. Assim, ele não teria uma "roupagem" comercial parecida com a dos livros atuais, projetados para virar best-sellers e agradar o leitor do século XXI. Mas, eu logo abandonei esse argumento, por que não acho que isso tenha sido um problema nos outros livros dela. 

Sobre isso, um fato estranho é que Mansfield Park foi o primeiro livro que Jane escreveu e lançou já na condição de uma autora publicada. Ou seja, ela já tinha mais fama e experiência, mas  (minha humilde opinião de leitora) Mansfield Park não chega nem aos pés de seus livros anteriores!  

Outra coisa que tornou muito difícil a leitura pra mim foram os personagens. Apesar de eu ter adorado a construção que ela fez em cada um deles, nenhum personagem tem carisma. Eu digo carisma no sentido estimular a empatia do leitor. Você não se vê torcendo por ninguém, muito menos pela própria Fanny. Todos são muito vaidosos, inclusive Fanny, como nesse trecho que mostra os pensamentos dela: 

"Pudesse Fanny ter estado em casa, ela poderia ter sido útil a todas as criaturas ali. Ela sentia que decerto teria podido ajudar a todos. A todos ela decerto teria poupado algum transtorno, fosse mental ou manual" (Mansfield Park, página 363). 

Me incomodou, também, que todos personagens tendem a achar que a sua opinião é a certa sobre tudo, numa postura arrogante. Talvez o que menos seja assim e esteja mais propenso a uma discussão aberta seja Edmund. Fanny, por outro lado, apesar da vaidade e, dependendo do assunto, está pronta para abandonar a própria opinião ao menor sinal de uma opinião discordante, que convence a sua.  

Em relação ao romance, Jane fez algo que me lembrou aquele poema "Quadrilha" de Carlos Drummond de Andrade (aquele: João amava Teresa, que amava Raimundo, que amava Maria...), pois tínhamos Maria apaixonada por Henry, que depois apaixonou-se por Fanny que sempre amou Edmund, que se encantou por Mary, que amava mai$ o dinheiro...  

Essa confusão de casais eu acho muito interessante, mas não considero que foi um ponto completamente bem explorado no livro. Em diversos momentos eu sinceramente não entendi como Fanny não cedeu nenhum pouco ao charme de Henry (um cafajeste que acaba se apaixonando por ela), pois teria sido um caminho muito bom pra autora ter experimentado, focando na redenção dele. 

Além disso, não se encaixa bem como Fanny poderia ser tão devotada a Edmund, enquanto ele muitas vezes parecia pouco se importar com ela ou seu bem estar, apenas por que estava ocupado demais com a Srta. Crawford. Era mais como se ela estivesse habituada a gostar dele, já que foi a primeira e única pessoa (durante muito tempo) que se mostrou interessado em lhe tratar bem. Falando nisso, por toda postura dele ao longo do livro e pela sua rápida mudança no final, ele não faz jus a participar do mesmo clube que o Sr. Darcy (vamos combinar que esse sim é um padrão de qualidade para qualquer personagem masculino!). 

O que realmente salva esse livro de ser um desastre é o seu final. Embora eu tenha me decepcionado muito ao longo da leitura, quando eu menos esperava, lá pelas últimas trinta páginas, a história ganhou um fôlego novo e eu me vi curiosa e ansiosa pra saber como tudo ia se resolver. Jane tirou muitas cartas da manga e tomou rumos totalmente diferentes do que eu tinha imaginado e que me deixaram bem satisfeita. 

Classificação: 2 - Deu pra ler. 

Nota 2/5
Sinopse original (editora LPM, 2013): 

Tímida, recatada e por vezes quase invisível, a pequena Fanny Price é resgatada de uma vida de privações junto a sua família em Portsmouth para ser criada pelos tios na opulência e fartura de Mansfield Park. É lá que ela vai desabrochar em uma moça bonita e incorruptível, capaz de assumir o papel de heroína frente à inconstância das primas, à sisudez do tio e à avareza e à alienação das tias. Somente quem parece compreender seu espírito correto ao extremo é seu primo Edmund, por quem Fanny nutre uma secreta paixão. Com a chegada dos irmãos Mary e Henry Crawford, a calma de Mansfield Park é abalada, restando a Fanny desvendar os verdadeiros propósitos de ambos. 

Mansfield Park foi lançado em três volumes, em Londres, em maio de 1814. Jane Austen tinha 38 anos e morreria apenas três anos depois. Este romance é considerado fruto de um trabalho amadurecido da escrita da autora, que com uma heroína atípica e uma sutil análise da sociedade e da moral da época revela uma de suas obras mais profundas.
Para quem interessar, em 1999 foi feita uma adaptação desse livro para o cinema, com o filme "Palácio das Ilusões" (trailer abaixo):

2 comentários:

  1. Jane Austen é a minha escritora favorita, e eu li Mansfield Park ano passado. Apesar de ele não ser meu livro favorito da autora, eu gostei muito da leitura. Eu senti muita empatia pela Fanny durante a leitura, pois nossas personalidades são parecidas. Eu gostei da estória e não a achei arrastada. Leitura é questão de gosto. Por exemplo, O Morro dos Ventos Uivantes... Eu não gostei do livro, exatamente porque não senti empatia por nenhum personagem, nem do jeito que a estória foi contada e se desenrolou, apesar de ele ser o livro favorito de várias pessoas...
    Parabéns por ter sido sincera em sua resenha!
    Abraços.

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    1. Obrigada pelo comentário!!!
      Muito bom ter alguém com quem debater sobre esse livro, ainda mais se for alguém com opinião diferente 😀. Eu realmente tentei sentir empatia pelos personagens e me envolver com o livro, mas não consegui. Também até me acho parecida com Fanny, mas, não sei por que não consegui simpatizar com ela (talvez por não concordar com algumas de suas atitudes).
      Nunca li O Morro dos Ventos Uivantes, sempre por achar que seria assim, arrastado rsrs. Já vi uma adaptação dele pro cinema, mas odiei e, também por isso, nunca me arrisquei a procurar o livro...
      Abraços!

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